Nos limites da etnogênese e suas consequências analíticas: sobre porque é necessário reconsiderar as ontologias indígenas na História

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46752/anphlac.38.2024.4203

Palavras-chave:

Etnogênese, Ontologia, Chaco

Resumo

O objetivo desse texto é estabelecer um panorama a respeito da produção que trata da História Indígena nos últimos 30 anos. Seu intuito foi estabelecer uma separação tipológica e heurística entre duas grandes correntes de interpretação: a primeira, vinculada às abordagens de cunho processualista e pós-processualista que foram especialmente afetadas pelos debates relativos a etnogênese e seus desdobramentos; a segunda, agrupa trabalhos atravessados pelas problemáticas cujo plano de imanência são as questões oriundas da abordagem estrutural. Esse exercício de contraposição visa o estabelecimento de comparações, que têm o intuito de indicar alguns dos limites interpretativos oriundos da primeira corrente de pensamento. Ao final do ensaio, consideramos os apontamentos levantados ao longo do texto para pensar no caso específico do Chaco no século XVIII, numa tentativa de demonstrar a necessidade de um cuidado analítico com os conceitos e noções indígenas no momento de problematizar a leitura das fontes coloniais.

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Publicado

2024-12-23

Como Citar

Ferreira de Lema, F. (2024). Nos limites da etnogênese e suas consequências analíticas: sobre porque é necessário reconsiderar as ontologias indígenas na História. Revista Eletrônica Da ANPHLAC, 25(38), 295–326. https://doi.org/10.46752/anphlac.38.2024.4203