Nos limites da etnogênese e suas consequências analíticas: sobre porque é necessário reconsiderar as ontologias indígenas na História
DOI:
https://doi.org/10.46752/anphlac.38.2024.4203Palavras-chave:
Etnogênese, Ontologia, ChacoResumo
O objetivo desse texto é estabelecer um panorama a respeito da produção que trata da História Indígena nos últimos 30 anos. Seu intuito foi estabelecer uma separação tipológica e heurística entre duas grandes correntes de interpretação: a primeira, vinculada às abordagens de cunho processualista e pós-processualista que foram especialmente afetadas pelos debates relativos a etnogênese e seus desdobramentos; a segunda, agrupa trabalhos atravessados pelas problemáticas cujo plano de imanência são as questões oriundas da abordagem estrutural. Esse exercício de contraposição visa o estabelecimento de comparações, que têm o intuito de indicar alguns dos limites interpretativos oriundos da primeira corrente de pensamento. Ao final do ensaio, consideramos os apontamentos levantados ao longo do texto para pensar no caso específico do Chaco no século XVIII, numa tentativa de demonstrar a necessidade de um cuidado analítico com os conceitos e noções indígenas no momento de problematizar a leitura das fontes coloniais.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os Índios Aldeados no Rio de Janeiro Colonial: Novos Súditos Cristãos do Império Português. 2000. 351f. Tese (Doutorado em Antropologia) – Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências humanas, Universidade Estadual de Campias, São Paulo, 2000.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Portuguese Indigenous Policy and Indigenous Politics in the Age of Enlightenment: Assimilationist Ideals and the Preservation of Native Identities. In: TRICOIRE, Damien (Ed.). Enlightened Colonialism: Civilization Narratives and Imperial Politics in the Age of Reason. Cambriedge: Cambridge Imperial and Post-Colonial Studies Series, 2017, p. 73-92.
BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: Philippe Poutignat; Jocelyne Streiff-Fenart (Org.). Teorias da Etnicidade. São Paulo: UNESP, [1969] 1998, p. 187-227.
BOCCARA, Guillaume. Mundos Nuevos en la frontera del Nuevo Mundo. Nuevo Mundo-Mundos Nuevos, Debates [online], 2005. Disponível em: https://journals.openedition.org/nuevomundo/426. Acesso em: 21 mar. 2019.
BOCCARA, Guillaume. Génesis y estrutura de los complexos fronterizos euro-indígenas. Repensando los márgenes americanos a partir (y más allá) de la obra de Nathan Wachtel. Memoria Americana, v. 13, p. 21-52, 2005b.
BURD, Rafael. Das “injusticias que nos a hecho los españoles” a “basalios de la Reyna de Portugal”: reduções orientais na virada do século XVIII para o XIX. 2019, 248f. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de pós-Graduação em História, Porto alegre, 2019.
CANCELA, Francisco Eduardo Torres. De projeto a processo colonial: índios, colonos e autoridades régias na colonização reformista da antiga Capitania de Porto Seguro. (1763-1808). 2012. 337f. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós-Graduação em História, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012.
CANCELA, Francisco. “Leis municipais ou posturas da câmara e concelhos desta vila de porto alegre”: notas para o estudo sobre política e administração nas vilas de índios. Revista Espacialidades. v. 15, n. 2, p. 254-273, 2019.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Introdução a uma história indígena. In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (Org.). História dos Índios no Brasil, São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 9-24.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Apresentação. In: ALBERT, Bruce; RAMOS Alcida Rita. Pacificando o branco: cosmologia do contato no Norte-Amazônico. São Paulo: UNESP, [2000] 2002, p. 7-9.
DESCOLA, Philippe. Outras naturezas, outras culturas. São Paulo: Editora 34, [2010] 2016.
DOBRIZHOFFER, Martín S. J. Historia de los Abipones. Resistencia: Universidad Nacional del Nordeste, v. 2, [1784] 1968.
FARAGE, Nádia. As Muralhas dos Sertões: os povos indígenas do rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
FAUSTO, Carlos. Fragmentos de história e cultura Tupinambá. Da etnologia como instrumento crítico de conhecimento etno-histórico. In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, [1992] 1998. p. 381-396.
FELIPPE, Guilherme Galhegos. Roubos, trocas e comércio ilegal como motivadores da reprodução social entre os índios do Chaco. Estudos Ibero Americanos, Porto Alegre, v. 43, n. 1, p.37-48, jan-abr. 2017.
GARCIA, Elisa Frühauf. As diversas formas de ser índio: Políticas indígenas e políticas indigenistas no extremo sul da América Portuguesa. 2007. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2007.
GARCIA, Elisa Frühauf. “‘Ser índio’ na fronteira: limites e possibilidades. Rio da Prata, c. 1750-1800”. Nuevo Mundo-Mundos Nuevos, Debates [online], 2011. Disponível em http://nuevomundo.revues.org/60732. Acessado em 21 março 2019.
GARCIA, Elisa Frühauf. Dimensões da liberdade indígena: missões do Paraguai, séculos XVII-XVIII. Revista Tempo, v. 19, n. 35, p. 83-95, 2013.
GOW, Peter. Of mixed blood: Kinship and history in Peruvian Amazonia. New York: Oxford University Press, [1991] 2003.
INGOLD, Tim. Da transmissão de representações à educação da atenção. Educação, Porto Alegre, v. 33, n. 1, p. 6-25, jan./abr. [2001] 2010.
LOZANO, Pedro, S. J. Descripción Corográfica del Gran Chaco Gualamba. San Miguel de Tucumán: Universidad Nacional del Tucumán, [1733] 1989.
MANO, Marcel. Sobre as penas do gavião mítico: história e cultura entre os Kayapó. Tellus, Campo Grande, v. 12, n. 22, p. 133-154, jan./ jun. 2012.
MELO, Karina Moreira Ribeiro da Silva e. A execução do tratado de Santo Ildefonso e as atuações indígenas na fronteira platina. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais – RBHCS, v. 10, n.19, jan./jun. 2018.
MONTEIRO, John Manuel. Armas e armadilhas. História e resistência dos índios. In:
NOVAES, Adauto (Org.) A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999. p. 237-249.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Protagonismo e Justiça: simulacro judicial e desafios de ser índio na colônia. In: SANTOS, Maria Cristina dos; FELIPPE, Guilherme Galhegos. (Org.). Protagonismo ameríndio de ontem e hoje. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. p. 213-240.
NEUMANN, Eduardo. “A escrita dos guaranis nas reduções: usos e funções das formas textuais indígenas – século XVIII”. Topoi, Rio de Janeiro, v. 8, n. 15, 2007, p. 49-79.
NEUMANN, Eduardo Santos. Os Memorias: uma Modalidade de Escrita Indígena depois da expulsão dos jesuítas. In: COLVERO, Ronaldo Bernardino e MAURER, Rodrigo Ferreira. Missões em Mosaico: da Interpretação à prática: um conjunto de experiências. Porto Alegre, Faith, 2011, p. 139-150.
NEUMAN, Eduardo Santos; BOIDIN, Capucine. A escrita política e o pensamento dos Guarani em tempos de autogoverno (c.1753). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 37, n. 75, 2017.
OLIVEIRA, João Pacheco de. Uma etnografia dos índios misturados? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. In: OLIVEIRA, João Pacheco de (org.) A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: Contra Capa, [1999] 2004, pp. 13-38.
PAUCKE, Florián, S. J. Hacia Allá y Para Acá. Santa Fe: Ministerio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa Fe, [1767] 2010.
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e índios escravos: Os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 115-132.
POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. A etnicidade, definições e conceitos. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: UNESP, [1995] 1998a, p. 85-121.
POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. A etnicidade: um novo conceito para um fenômeno novo? In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: UNESP, [1995] 1998b, p. 21-32.
POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. O estado atual do debate sobre a etnicidade. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: UNESP, [1995] 1998c, p. 123-140.
RANZAN, Alfredo Campos. O papel, a pena e a fronteira: manifestações escritas e ação indígena nas reduções guaranis do Paraguai (1767 – 1810). 2015. 209f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.
SAHLINS, Marshall. Como Pensam os “Nativos”: sobre o capitão Cook, por exemplo. São Paulo: Edusp, [1995] 2001.
SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Espelhos partidos: etnia, legislação e desigualdade na Colônia. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2011.
SANTOS, Antonela dos; TOLA, Florencia. ¿Ontologías como modelo, método o política? Debates contemporáneos en antropología. Avá, Posadas, n. 29 dez. 2016.
SANTOS, Maria Cristina dos; BAPTISTA, Jean. Reduções jesuíticas e povoados de índios: controvérsias sobre a população indígena (séc. XVII-XVIII)”. História Unisinos, vol. 11, n. 2, 2007, p. 240-251.
SANTOS, Maria Cristina dos. O Começo da ruína: administradores e indígenas na segunda metade do século XVIII. In: BAPTISTA, Jean; SANTOS, Maria Cristina dos. (Org.). Dossiê Missões: As Ruínas: a crise entre o temporal e o eterno. 1ed. Brasília: Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro de Missões (IBRAN). 2010, v. III, p. 23-111.
SANTOS, Maria Cristina dos. Caminhos historiográficos na construção da História Indígena. Revista de História, São Leopoldo, v. 21, n. 3, p. 337-350, set./dez. 2017.
SANTOS, Maria Cristina dos; FELIPPE, Guilherme Galhegos. Protagonismo como substantivo na História Indígena. In: SANTOS, Maria Cristina dos; FELIPPE, Guilherme Galhegos. (Org.) Protagonismo ameríndio de ontem e hoje. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. p. 13-52.
SETH, Sanjay. Razão ou Raciocínio? Clio ou Shiva? História da historiografia, Ouro Preto, n. 11, p. 173-189, abr. [2004] 2013.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo, Contexto, 2005, p. 124.
SPOSITO, Fernanda. Políticas ameríndias, políticas indigenistas (América portuguesa e espanhola, séculos XVI a XVIII). In: SOUZA, Fábio Feltrin; WITTMANN, Luísa Tombini. Protagonismo indígena na história. Tubarão: Copiart, 2016. p. 27-56.
TEIXEIRA PINTO, Márnio. História e cosmologia de um contato. A atração dos Arara. In: ALBERT, Bruce e RAMOS, Alcida (orgs.) Pacificando o branco: cosmologias do contato no Norte-Amazônico. São Paulo: UNESP, 2002, p. 405-429.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Etnologia brasileira”. In: MICELI, Sergio (org.) O que ler na ciência social brasileira (1970-1995) I. São Paulo: Sumaré, 1999, p. 109-223.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Os termos da Outra História”. In: RICARDO, Carlos Alberto (ed.). Povos Indígenas no Brasil 1996/2000. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2000, p. 49-54.
WATTS-POWLESS, Vanessa. “Lugar-pensamento indígena e agência de humanos e não humanos (a primeira mulher e a mulher céu embarcam numa turnê pelo mundo europeu!)”. Espaço Ameríndio. Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 250-272, [2013] 2017.
WHITE, Richard. O Middle Ground. Esboços, Florianópolis, v. 27, n. 46, p. 554-602, [1991] 2020.
WILDE, Guillermo. Orden y ambigüedad en la formación territorial de Río de la Plata a fines del siglo XVIII. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, n. 9, jun. 2003, p. 105-135.
WILDE, Guillermo. Territorio y etnogénesis misional en el Paraguay del siglo XVIII. Fronteiras, Dourados, v. 11, n. 19, p. 83-106, jan./jun. 2009.
WILDE, Guillermo. La agencia indígena y el giro hacia lo global. Historia Crítica, Santiago, n. 69, p. 99-114, 2018.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
a. Cessão de direitos autorais
Venho, por meio desta, ceder em caráter definitivo os direitos autorais do artigo "____________", de minha autoria, à Revista Eletrônica da ANPHLAC e afirmo estar ciente de que estou sujeito às penalidades da Lei de Direitos Autorais (Nº9609, de 19/02/98) no caso de sua infração. Autorizo a Revista Eletrônica da ANPHLAC a publicar a referida colaboração em meio digital, sem implicância de pagamento de direitosautorais ou taxas aos autores.
b. Declaração de ineditismo e autoria
Atesto que o artigo ora submetido à Revista Eletrônica da ANPHLAC, intitulado "________________________", de minha autoria, nunca foi publicado anteriormente, na íntegra ou em partes, dentro do país. Vindo a ser publicado na Revista Eletrônica da ANPHLAC, comprometo-me a não republicá-lo em qualquer outro veículo editorial.